Três estudos recentes melhoram nossa compreensão das condições ambientais no início da Terra – importante não apenas para reconstruir a história do nosso próprio planeta, mas para avaliar a habitabilidade dos corpos planetários em geral.
O primeiro destes estudos foi liderado por John Tarduno da Universidade de Rochester e relatado em Proceedings of the National Academy of Sciences. Os autores apresentam evidências de um forte campo magnético ao redor da Terra, de cerca de 4,1 bilhões a 4 bilhões de anos atrás. A sua conclusão baseia-se em inclusões de magnetita em certos minerais (zircões), e assim parece ser muito confiável. Um forte campo magnético teria sido crítico para que a vida tivesse origem na Terra, pois teria protegido a superfície do vento solar. Estrelas como o nosso Sol são conhecidas por expelirem grandes quantidades de radiação nociva quando ainda são jovens, e sem um campo magnético a vida na superfície da Terra teria sido capaz de sobreviver à barragem.
Como era a atmosfera da Terra naquela época? Com base no trabalho de modelagem relatado por Owen Lehmer da Universidade de Washington e colegas da Science Advances, parece ter consistido de pelo menos 70% de dióxido de carbono. Já sabíamos de pesquisas anteriores que a atmosfera da Terra era muito baixa em oxigénio. Lehmer et al. afirmam que um teor de dióxido de carbono de 70% ou mais poderia explicar a oxidação observada do ferro encontrado dentro de micrometeoritos com 2,7 bilhões de anos. É provável que essas altas concentrações se tenham estendido até o início do período Arqueano há cerca de 4 bilhões de anos, o que significa que a vida pode ter se originado sob esse tipo de atmosfera.
Outro fator ambiental chave que afetou a Terra no início foi o bombardeio por meteoritos – não apenas micrometeoritos, mas também impactos maiores, ambos mais comuns do que hoje. Infelizmente não temos um registro completo desses impactos, pois as rochas com mais de quatro bilhões de anos são muito raras, tendo sido apagadas pela atividade geológica. Só podemos obter estimativas baseadas na taxa de crateras na Lua – em locais onde ainda podemos ver crateras antigas – e extrapolar essa taxa para a Terra.
Embora estas limitações, uma equipa liderada por Timmons Erickson da Divisão de Pesquisa e Exploração de Astromateriais do Centro Espacial Johnson da NASA relatou recentemente na Nature Communications a mais antiga cratera de meteoritos ainda encontrada na Terra. Ela foi identificada a partir de minerais que foram alterados e chocados durante um impacto no que é agora a Austrália Ocidental há cerca de 2,2 bilhões de anos.
Esse impacto pode ter tido enormes consequências para o clima da Terra, porque acontece que ocorreu quando a Terra tinha acabado de emergir de um período de glaciação. Pouco antes disso, o nosso planeta estava totalmente ou quase totalmente coberto por gelo – um cenário geralmente referido como Bola de Neve Terra. O impacto era tão forte que teria transformado o gelo diretamente em vapor de água, um potente gás de efeito estufa, aquecendo o planeta o suficiente para acabar com a idade do gelo. A biosfera da Terra, que naquela época era apenas microbiana, teria sido capaz de se multiplicar e diversificar.
Se o meteorito australiano foi realmente a causa do aquecimento, ou se o momento do ataque foi apenas por coincidência, não sabemos. Mas a pesquisa nos mostra que os eventos extraterrestres de energia têm que mudar nosso clima. E nos dá uma visão – juntamente com outros estudos recentes – de como eram realmente as condições no início da Terra.