A vontade geral, em teoria política, uma vontade colectiva que visa o bem comum ou o interesse comum. A vontade geral é central para a filosofia política de Jean-Jacques Rousseau e um conceito importante no pensamento republicano moderno. Rousseau distinguiu a vontade geral das vontades particulares e muitas vezes contraditórias de indivíduos e grupos. Em Du Contrat social (1762; O Contrato Social), Rousseau argumentou que a liberdade e a autoridade não são contraditórias, uma vez que as leis legítimas se baseiam na vontade geral dos cidadãos. Obedecendo à lei, o cidadão individual só está obedecendo a si mesmo como membro da comunidade política.

Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau, desenho em pastel por Maurice-Quentin de La Tour, 1753; no Musée d’Art et d’Histoire, Genebra.

Cortesia do Musée d’Art et d’Histoire, Genebra; fotografia, Jean Arlaud

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A noção de vontade geral precede Rousseau e tem suas raízes na teologia cristã. Na segunda metade do século XVII, Nicolas Malebranche atribuiu a vontade geral a Deus. Deus, argumentou Malebranche, atua principalmente no mundo através de um conjunto de “leis gerais” instituídas na criação do mundo. Essas leis correspondem à vontade geral de Deus, em contradição com expressões particulares da vontade de Deus: milagres e outros atos ocasionais de intervenção divina. Para Malebranche, é porque a vontade de Deus se expressa principalmente através de leis gerais que se pode dar sentido à aparente contradição entre a vontade de Deus de salvar toda a humanidade e o fato de que a maioria das almas não serão realmente salvas. A própria compreensão de Rousseau da vontade geral surgiu de uma crítica a Denis Diderot, que transformou a compreensão de Malebranche da vontade geral em um conceito secular, mas que ecoou Malebranche ao defini-la em termos universalistas. Em seu artigo “Droit naturel” (“Direito Natural”), publicado em 1755 na Encyclopédie, Diderot argumentou que a moral se baseia na vontade geral da humanidade de melhorar sua própria felicidade. Os indivíduos podem ter acesso a esse ideal moral refletindo sobre seus interesses como membros da raça humana. A vontade geral, acreditava Diderot, é necessariamente dirigida ao bem, pois seu objeto é o aperfeiçoamento de todos.

Para Rousseau, entretanto, a vontade geral não é um ideal abstrato. É, ao contrário, a vontade realmente mantida pelo povo na sua qualidade de cidadão. A concepção de Rousseau é assim política e difere da concepção mais universal da vontade geral defendida por Diderot. Participar da vontade geral significa, para Rousseau, refletir e votar com base no senso de justiça. Os indivíduos tornam-se conscientes de seus interesses como cidadãos, segundo Rousseau, e portanto do interesse da república como um todo, não através de discussões espirituosas mas, ao contrário, seguindo sua consciência pessoal no “silêncio das paixões”. Neste sentido, a assembléia pública não debate tanto, como revela a vontade geral do povo. Rousseau argumentou que a vontade geral é intrinsecamente correta, mas também criticou em algumas obras (principalmente em seus Discours sur les sciences et les arts (1750; Discurso sobre as Ciências e as Artes) a elevação racionalista da razão acima dos sentimentos. Isto provocou um debate acadêmico sobre as dimensões racional e afetiva da vontade geral. Por um lado, a vontade geral reflete o interesse racional do indivíduo (como cidadão), bem como o do povo como um todo. Por outro lado, a vontade geral não é puramente racional porque emerge de um apego e mesmo de um amor pela comunidade política.

Rousseau assumiu que todas as pessoas são capazes de assumir o ponto de vista moral de visar o bem comum e que, se o fizessem, chegariam a uma decisão unânime. Assim, num estado ideal, as leis expressam a vontade geral. Embora os cidadãos possam estar errados e enganados, segundo Rousseau, eles visarão a justiça enquanto perseguirem os interesses do povo em vez de seguirem os seus interesses como indivíduos ou como membros de diferentes grupos. Visto desta perspectiva, o indivíduo que viola a lei está agindo não só contra o governo instituído, mas também contra o interesse superior desse indivíduo como membro da comunidade política. Em uma famosa passagem do The Social Contract, Rousseau argumentou que exigir que esse indivíduo cumpra a lei não é, portanto, nada mais do que “forçá-lo a ser livre”. Com base nisso, críticos como Benjamin Constant e Jacob Talmon acusaram Rousseau de ser um pensador autoritário e, no segundo caso, um precursor da política totalitária. A acusação de Talmon foi, no entanto, amplamente desacreditada.

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Embora os estudiosos divirjam sobre o significado da passagem acima mencionada, há um amplo consenso de que Rousseau estava preocupada em preservar a liberdade civil e a autonomia, e não em dar o livre reinado ao governo. Na verdade, o conceito de vontade geral também implica uma proscrição contra o despotismo. Para Rousseau, o governo só é legítimo na medida em que está subordinado à soberania popular ou, em outras palavras, segue a vontade geral do povo. O governo perde toda a legitimidade no momento em que se coloca acima da lei para perseguir seu próprio interesse como um órgão político separado.

O conceito de vontade geral tem tido uma influência profunda e duradoura no pensamento republicano moderno, particularmente na tradição francesa. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 (artigo 6), documento fundador da actual Constituição Francesa, definiu a lei como a expressão da vontade geral.

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